sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Seu Saul - um guri de 87!!!

Quando cheguei a porta de sua casa fui logo recebida com um largo sorriso. Mal consegui acreditar que se tratava de um viúvo de 87 anos. Na frente da casa um jardim de dar inveja a qualquer dona de casa prendada... Pediu um minuto e foi se vestir a rigor, calça social, camisa abotoada... afinal seu Saul é de outro tempo... chegou a roda de chimarrão já sorrindo, cumprimentando todo mundo e aos poucos reconheceu meu pai, com o qual conviveu a mais de 40 anos na cidade de Horizontina no Rio Grande do Sul. Um encontro nada planejado que rendeu-lhe a cara de espanto, logo novamente substituída por aquele sorrisão.

Seu Saul é o tipo de pessoa que impressiona.

Quando perdeu a esposa, vítima do Alzheimer há um ano e meio, lhe veio a depressão. Mas essa não durou muito diante da energia do aposentado. Ele, que é mais conhecido que poste de luz na cidade de Lucas do Rio Verde, viu que não podia se entregar. Levantou a face, colocou a pasta de baixo do braço e peregrinou pela cidade oferecendo o que tem de melhor, o dom de plantar. Do lado de casa fez mudas das mais diversas espécies, estão a venda para quem quiser passar ali e pegar.

Seu Saul foi responsável pela arborização de muitos locais de Lucas do Rio Verde e também da vila onde mora, distante uns 30 quilômetros dali. Quem passar pela estrada vai ver um posto, ao lado dele um restaurante chamado São Cristóvão, seu Saul vive logo em frente, não é difícil achá-lo. E se tiver um tempinho para uma prosa, melhor ainda! Tempinho, ou tempão. Ele disse adorar jornalistas e não perde de dar uma entrevista. Aliás, falar é com ele mesmo, tem a memória de um guri. Italiano, fala alto, gesticula e lembra até das notícias que lia nos jornais vindos da Itália na infância.

Passou a vida debruçado sobre os livros, conta histórias como ninguém, sabe fatos históricos, dadas, nomes... uma verdadeira máquina do tempo. Ainda hoje é chamado para contar causos no rádio ou dar palestras nas escolas e faculdades.

Depois de horas de prosa cerrada, onde fiquei sabendo com muito mais detalhes sobre os principais fatos da história do Brasil e das guerras na Itália e até sobre futebol, eis que Saul some da vista. Dali a pouco reaparece de posse daquele sorriso mais do que esperado e em mãos seu parceiro, o violão. Ele tinha mais para mostrar! Modas e mais modas do tempo do meu pai... muitas que eu pude acompanhar pois ouvia nos vinis quando era menina.

Um verdadeiro menino no auge de seus 87 anos... Saul! Uma figura que ficou gravada na minha memória... Que os velhinhos dos asilos, das casas sem carinho, abandonados por ai, tivessem a oportunidade de conviver com esse guri.

Grandeza de espírito são poucos que têm!!!

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